quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Entrevista a: Rodrigo

(Rodrigo chegou ao Canedo em 2005, proveniente do futebol italiano.)

Ao longo dos seus trinta e dois anos de futebol sénior, o Canedo conheceu poucos atletas de nacionalidade diferente da portuguesa: angolanos, cabo-verdianos, brasileiros, e um...uruguaio.
Isso mesmo: Hector Rodrigo Garcia, nascido em Montevideu, corria o ano de 1981. Quis o destino que o Canedo fosse o único clube que este uruguaio representou em Portugal, na temporada 2005/2006, numa carreira praticamente dividida entre o Uruguai e a Itália.
O sonho de ser profissional no nosso País trouxe-o para o Norte, em busca de representar um clube da nossa II Liga, que, depois de lhe dar ordem para viajar, não lhe deu a oportunidade de se mostrar, e fez com que Rodrigo acabasse no antigo pelado das Valadas, para disputar a III Divisão Nacional.
Podendo atuar como ponta-de-lança, segundo avançado e até como extremo, Rodrigo foi autor de golos que valeram vitórias pela margem mínima fora-de-portas, nomeadamente no terreno do Tirsense e do Padroense.
Atualmente com 35 anos, é treinador de uma equipa sénior em Itália e não fecha a porta à possibilidade de, um dia, regressar ao Canedo.
Ei-lo em entrevista ao nosso facebook/blogue:

Canedo FC: Como surgiu a oportunidade de jogar em Portugal e como acabou a jogar no Canedo?
Rodrigo Garcia: Eu fui chamado por uma equipa que, naquele ano, tinha descido para a Segunda Liga de Portugal. Quando eu cheguei, falei com o presidente, que me pediu para esperar uns dias, porque com a troca de treinador, algumas coisas mudaram. Esperei, como ele havia proposto, mas no fim, não fui chamado. Estava em Portugal e queria jogar, mas não tinha clube.
Surgiu uma oportunidade, através de um amigo, de ir treinar ao Canedo e como não queria estar parado, foi então que fui fazer um teste e, o grande Mister Albertino, gostou da minha forma de jogar e convidou-me a fazer parte da equipa.

CFC: Tendo em conta que é sul-americano e veio de Itália, como foi a sua adaptação ao país e ao clube? Que pessoas mais o ajudaram nessa adaptação?
RG: A adaptação não foi fácil, tinha muita diferença entre o futebol que estava habituado e o futebol português. A parte mais difícil foi o campo. Estava habituado a jogar em campos relvados e ali no Canedo ainda era em terra e foi difícil me acostumar.
Lembro-me que depois quando falaram para eu vir no dia seguinte, para jogar, eu perguntei: "onde?", Albertino mostrou o campo e não acreditei, perguntei a ele e ao treinador-adjunto, o Rui, se no dia seguinte colocariam o relvado, e eles começaram-se a rir.
Sem dúvida que o Albertino foi muito importante na minha adaptação e, depois, o meu grande amigo Sérgio Gonçalves (guarda-redes), "o monstro das balizas". Tornaram-se as pessoas que mais me ajudaram, sem margem nenhuma de dúvidas!

CFC: Fale-nos um pouco acerca da época que cá jogou.
RG: Foi um ano difícil. Não fiz a preparação com a equipa, sendo assim, cheguei em condições físicas não muito boas, além de ter tido a desilusão da equipa que me fez uma proposta e depois não deu certo.
Tinhamos iniciado muito bem a época, mas depois começaram os problemas económicos, e daí ficou tudo mais difícil. Penso que num ano sem problemas económicos, a equipa poderia ter conseguido a promoção.
No âmbito pessoal, quando estava perto de voltar a jogar ao meu melhor nível, tive a rotura do ligamento do pé direito e passei dois meses na enfermaria. "Usei" Dezembro e Janeiro para me recuperar e depois corri sempre atrás de alcançar a melhor forma.
Foi duro, salvámo-nos, mas sempre fiquei com a ideia de que tinha uma dívida com a equipa e com o treinador.

(Rodrigo em ação durante o Canedo - Lourosa de 2005/2006.)

CFC: Que memórias guarda da sua passagem pelo Canedo?
RG: Das pessoas, as melhores lembranças que qualquer um pode ter. Fui muito bem tratado e toda a gente fez o possível e o impossível para que desse certo.
Minhas lembranças melhores são os amigos que fiz, o nascimento do filho do Pedrinho, o jogo contra o Varzim, que foi dos meus primeiros jogos, onde sofri uma grande penalidade que não deram e, por último, aquele golo que quase fiz de cabeça.
Guardo muita coisa boa...

CFC: Que momento divertido que passou em Canedo gostava de partilhar com os nossos adeptos?
RG: Eu tinha recuperado da lesão e estava entrando na melhor forma do ano, estava jogando bastante bem e jogámos um jogo fora de casa. O mister me fazia jogar sempre a titular quando jogávamos fora, porque era em campo relvado. Fiz um grande jogo, lembro que ganhámos 2-1, e eu tinha feito um golo. Recordo que fora de casa jogávamos em 4-2-3-1, e em casa 4-3-3.
No treino antes do jogo seguinte, o mister chamou-me e falou: "Rodrigo, eu gostava de te ver jogar como ponta-de-lança, mas não posso tirar o Nuno", que era o capitão e goleador da equipa, e toda a gente sabia e reconhecia a importância do Nuno na equipa.
Eu falei que não tinha problema e que entendia a situação, que ele era o treinador e que eu estava a disposição da equipa. Não me lembro perfeitamente como foi, mas na semana seguinte fizemos um jantar entre os jogadores e os dirigentes, para fazer o ponto da situação, e discutir assuntos que tinham surgido. O Albertino falou e, no fim, ele perguntou: "Alguém tem alguma dúvida?" e o Nuno levantou-se e disse: "Eu se fosse o Rodrigo teria a dúvida de porque não jogou de início, no domingo, depois de ter feito golo na semana passada". Eu olhei para o mister, baixei a cabeça e comecei a rir-me sozinho!
É um momento engraçado que recordo, porque o Nuno era um jogador muito importante na equipa e por isso não podia sair e depois ele mesmo perguntou no jantar porque eu não tinha jogado.

CFC: Além de Portugal, também jogou no Uruguai e em Itália. A passagem por cá foi benéfica para si e para a sua carreira? Em que aspetos? 
RG: Cada futebol tem as suas características e o futebol português não é diferente. Seguramente levei coisas que até uso agora, como treinador. Como por exemplo, o trato com os jogadores que tinham o Albertino e o Rui. Aprendi muito com eles, sobretudo de como faziam todos os jogadores sentirem-se importantes, e como usavam os jogadores na medida do jogo que queriam fazer.

CFC: Agora é treinador de Seniores. Se tivesse a oportunidade de treinar o Canedo, aceitava?
RG: Sem dúvida que se surgir a oportunidade e as condições forem boas, voltaria com muito gosto.
Agora estou indo muito bem aqui na Itália, mas no futuro, fazer uma experiência no Canedo como treinador, seria muito bom também, até porque como falei, fiquei sempre com a ideia de que fiquei devendo algo ao clube e às pessoas, por tudo o que fizeram por mim nesse ano que aí estive.


Pode consultar toda a carreira de Rodrigo, aqui.

sábado, 19 de novembro de 2016

Entrevista a: Joel Vital

(Joel em ação durante o Canedo 0-1 Oliveira do Douro de 06/07.)

Do Benfica para o... Canedo. À primeira vista, parece ser uma daquelas coisas impensáveis de acontecer. Mas, "mergulhando" na história, constatámos que aconteceu mesmo. O protagonista? Joel Vital.
Joel fez-se sénior cedo: aos 16 anos, já era titular na equipa principal do histórico Salgueiros, que competia na então II Divisão B - e onde, de resto, fez grande parte da sua formação.
No fim da temporada, manteve-se de vermelho e de águia ao peito mas trocou de clube e cidade: rumou ao Benfica, juntamente com Pelé, o mesmo que, não há muito tempo, representou Inter de Milão e FC Porto.
Cumpriu o último ano de júnior na Luz, onde foi orientado por Rui Vitória, e ficou sem clube para a época 06/07, até que, em Novembro, apareceu em cena o Canedo.
O jogador aceitou o nosso convite, cumpriu o resto da temporada de azul e amarelo e, apesar de ser central, foi a defesa-esquerdo que realizou grande parte dos 21 jogos que disputou com a nossa camisola.
No fim da temporada rumou ao Madalena, dos Açores, e passou ainda por Candal e Cinfães, antes de chegar ao Sp. Covilhã, da II Liga, onde, atualmente, aos 28 anos, é um dos capitães de uma equipa que não perde há mais de dois meses.
Dez anos depois da sua chegada às Valadas, ei-lo em entrevista ao nosso facebook/blogue:

Canedo Futebol Clube: Veio do Benfica para o Canedo. Como surgiu a hipótese de jogar cá e que razões o levaram a aceitar o convite?
Joel Vital: Lembro-me que foi tudo muito à pressa. Na altura, eu estava sem clube no meu início como sénior, devido a alguns episódios com o meu empresário e então decidi eu próprio procurar clube. Lembro-me que havia clubes interessados em mim, mas tinha que aguardar, até que soube que o Canedo estava à procura de jogadores para a minha posição e bastou-me encontrar com o presidente do clube para que decidisse logo que era para aí que ia, uma vez que me senti muito desejado pelos responsáveis do clube!

CFC: A nível coletivo a temporada não foi boa, mas a nível pessoal pode-se dizer que lhe correu bem, certo? Realizou todos os jogos como titular, jogou em mais do que uma posição...
JV: Sim, a nível pessoal foi bom, joguei os jogos todos e consegui evoluir à medida que ia jogando. É verdade, fui contratado para defesa-central mas na ausência do nosso lateral esquerdo eu jogava lá. Tendo em conta que sou canhoto, isso facilita para que possa ser uma alternativa nessa posição.

CFC: Apesar de ter um conjunto de bons jogadores, o Canedo acabou por fazer uma época fraca e descer de divisão. Na sua opinião, o que falhou para que não conseguissem fazer mais pontos? 
JV: Eu já cheguei numa altura difícil, estávamos em último lugar e a moral estava em baixo... Éramos o "alvo a abater" por qualquer equipa que nos defrontasse, não nos respeitavam e, depois, estando em último lugar, ficava complicado para sair lá de baixo e esperávamos ter arbitragens que não nos prejudicassem. Mas nunca atirámos a toalha ao chão e lutamos até não conseguirmos mais!

CFC: Que memórias guarda do tempo que passou em Canedo?
JV: As memórias que tenho são as melhores. Apanhei pessoas fantásticas, humildes e trabalhadoras. Nunca se esquece o primeiro ano como sénior e eu não fujo à regra. Fico grato pela oportunidade de ter iniciado a carreira num clube com estes atributos.

CFC: Há algum episódio em particular que queira partilhar com os nossos adeptos?
JV: Tenho um episódio caricato: confesso que quando assinei não sabia e nem perguntei se era relva natural ou sintética, lembro de me terem dito algo do género "temos um campo bom e grande, com uma bancada coberta também grande", no dia seguinte chego para treinar e quando vi o campo pelado fiquei de boca aberta, pois não fazia ideia e já não jogava num pelado há uns anos largos. Mas como se diz "é como andar de bicicleta, nunca se esquece" e foi muito enriquecedor.

CFC: Saiu do Canedo há quase dez anos. Continua a acompanhar o clube?
JV: Sim, vou acompanhando pelas redes sociais e até já sei que, agora sim, têm sintético (risos).

CFC: No fim da época 06/07 saiu para o Madalena, dos Açores, depois passou pelo Candal e pelo Cinfães, até chegar à II Liga, mais propriamente ao Covilhã. Até que ponto a passagem pelo Canedo foi importante para a sua evolução como jogador e para a sua carreira?
JV: Considero que foi bastante benéfica a passagem pelo Canedo, pois pude jogar com regularidade, aprender com os mais velhos e, como já disse, apanhei pessoas muito humildes e trabalhadoras, apesar de todas as dificuldades. Descer de divisão só me deu ainda mais forças para contornar as adversidades futuras.


Pode consultar toda a carreira de Joel, aqui.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Padroense 3-4 Canedo: Doze anos depois...

(Canedo FC e Padroense defrontaram-se por cinco ocasiões em duas épocas.)

O dia 5 de Setembro de 2004 assinala a primeira vitória do Canedo na Taça de Portugal.
Depois de ter entrado a vencer na III Divisão Nacional, a nossa equipa foi ao terreno do Padroense, vencer por 4-3, após prolongamento. Hoje, doze anos volvidos, não só assinalamos esse registo, como recordámos toda a história em torno desse jogo, que além de ter tido um resultado "gordo", teve várias peripécias.
O Canedo, recorde-se, estreou-se em 04/05 nos campeonatos nacionais, mas já havia participado na Taça de Portugal em 01/02, em virtude da conquista da Taça de Aveiro de 00/01.
E para nos contar toda a história acerca desse Padroense - Canedo da época 04/05, ninguém melhor que Domingos Mendes, chefe do departamento de futebol do CFC entre as temporadas 02/03 e 05/06 e, mais tarde, membro da equipa técnica sénior em 06/07, 07/08 e 11/12.
Cá fica a história contada por quem a viveu:

"Nessa época, 04/05, entramos num 'Mundo novo'. Há uma grande diferença de organização, comunicação e tratamento entre Associações Distritais/FPF com os Clubes. Então no que toca a comunicados, calendários, nomeações, castigos, etc., ao nível das competições Nacionais, quem não tiver atento, pode sofrer com isso. Além disso, acrescento, as bem diferentes formas de comunicação entre entidades. A Internet era ainda uma coisa obsoleta e o agora ultrapassado fax, era o mais utilizado como via de comunicação. 
Então, depois de um inicio de época com o pé direito na estreia do Clube nos campeonatos nacionais, os dias seguintes eram de alegria e confiança, se calhar até de algum relaxamento. 
O jogo seguinte era para a Taça de Portugal, com uma deslocação ao reduto do Padroense, que, tal como nós, se estreava nessa época nos campeonatos nacionais. Na comunicação recebida, constava como horário de inicio dos jogos, às 16 Horas. No dia de jogo, tudo preparado: almoço, transporte, hora de saída. Talvez com o entusiasmo a 'empurrar', estávamos adiantados face à hora definida para chegada ao local do jogo e, com isso, em decisão conjunta com a equipa técnica, fomos até ao Parque da Cidade do Porto fazer uma ligeira caminhada. Fomos, não todos, pois havia sido permitido a alguns jogadores com residência próxima do Padrão da Légua, que se juntassem ao restante grupo no Estádio. Em boa hora foi tomada essa decisão, pois esses mesmos ao chegarem ao local, depararam com a equipa da casa a iniciar o aquecimento. Rapidamente entraram em contacto com o restante grupo, e tivemos de arrancar em "pique" do Parque da Cidade até ao Estádio.
Chegados ao local de jogo, os olhares de gozo eram muitos. No meio da atrapalhação de equipar, preencher ficha de jogo, etc., a pressão era muita para que o prazo máximo do início do jogo não fosse ultrapassado. Bem, lá começamos o jogo e, notava-se no ar, aquela ideia de clube 'campónio' que iria ser o 'bombo da festa'. À meia-hora de jogo já tínhamos encaixado dois golos. Depois do 'aquecimento' estar bem feito e com a vontade de mostrar que os 'bombos' não seríamos nós, conseguimos empatar o jogo aos 90' minutos e ir a prolongamento. Nesse tempo-extra ficou bem vincada a famosa expressão "tirar um coelho da cartola". Aliás, um não, dois, pois ganhámos por 4-3. 
Curiosamente, a partir daí, e em encontros futuros, tenho ideia do Padroense ter sido o clube que melhor nos recebeu, criando-se, até, uma certa empatia. Para finalizar, e antes do nosso regresso a casa desse primeiro jogo lá, fomos 'presenteados' com o esvaziamento dos pneus em um dos nossos transportes. Vá se lá saber porquê..."

Recorde aqui a equipa do Canedo que alinhou nesse encontro:

Vítor Gomes; João Carlos, Sandro, Óscar e Arménio (Cueca 95'); Neves, João Paulo e Zé Tó (Paulo Silva 78'); Pedrinho, Nuno Velha e Cerqueira (Telmo 45').
Treinador: Albertino Oliveira.

Golos do CFC: 2-1 Pedrinho 55'; 2-2 Neves 90' penalti; 3-3 Sandro 113'; 3-4 Pedrinho 118'.